Impacto do Bronzeamento Artificial no DNA
Um estudo inovador demonstra que o bronzeamento artificial pode causar danos significativos ao DNA da pele, aumentando o risco de melanoma, um câncer de pele agressivo. De acordo com os pesquisadores, o uso de câmaras de bronzeamento resulta em um aumento na carga de mutações nos melanócitos — as células responsáveis pela produção de melanina — e dissemina esse dano em regiões do corpo que normalmente não recebem exposição solar, intensificando a probabilidade de que essas células se tornem cancerígenas.
A pesquisa, que combina uma análise epidemiológica com mais de 5,8 mil prontuários médicos e um estudo molecular em nível celular, utilizou sequenciamento genético de melanócitos de pele considerada normal. Isso permitiu obter um panorama mais completo dos efeitos do bronzeamento artificial.
Resultados Alarmantes sobre o Risco de Melanoma
Ao examinar registros de aproximadamente 32 mil pacientes atendidos em um serviço especializado de dermatologia da Northwestern University, os pesquisadores descobriram que quase 3 mil apresentavam um histórico documentável de uso de bronzeamento artificial. Mesmo levando em consideração fatores como idade, sexo, histórico familiar e queimaduras solares, a utilização de câmaras de bronzeamento elevou quase três vezes o risco de desenvolver melanoma. Curiosamente, quanto mais sessões realizadas, maior se mostrava esse risco.
Outro dado preocupante foi que os melanomas em usuários de bronzeamento artificial apareceram com mais frequência em áreas do corpo que possuem baixo histórico de exposição solar, como o tronco e as costas, regiões geralmente cobertas por roupas no cotidiano. Além disso, esses pacientes apresentaram uma maior incidência de melanomas múltiplos ao longo de suas vidas.
Mecanismos Celulares do Bronzeamento Artificial
Para investigar como esses danos ocorrem, os autores do estudo sequenciaram melanócitos de 11 usuários intensivos de bronzeamento, alguns deles com mais de 750 sessões ao longo da vida, e compararam os resultados com dois grupos de controle. Os resultados mostraram que as células expostas ao bronzeamento artificial continham quase o dobro de mutações por megabase de DNA em relação às células dos grupos controle.
A diferença foi especialmente notável na parte inferior das costas, uma área que normalmente não é exposta ao sol, mas que é intensamente irradiada durante as sessões de bronzeamento. Dessa forma, as mutações acumuladas elevam o número de células pré-cancerosas em áreas mais amplas da pele, aumentando a vulnerabilidade ao câncer.
Desmistificando a Segurança do Bronzeamento Artificial
Comumente, a indústria do bronzeamento argumenta que suas lâmpadas emitem uma maior quantidade de radiação UVA, considerada menos prejudicial em comparação ao UVB. No entanto, o estudo refuta essa ideia, revelando que, embora a composição espectral seja diferente da luz solar, a intensidade total de UVA nas câmaras de bronzeamento é significativamente maior, resultando em um aumento considerável dos danos ao DNA.
As assinaturas de mutação observadas nas células são indicativas da exposição à radiação ultravioleta. Além disso, foi identificado um aumento em uma assinatura específica (SBS11), cuja origem ainda não é completamente compreendida, mas que é mais frequentemente encontrada em melanócitos de usuários de bronzeamento.
Implicações para a Saúde Pública
As conclusões deste estudo corroboram alertas já amplamente divulgados. A Organização Mundial da Saúde classifica as câmaras de bronzeamento como carcinógenas do grupo 1, assim como tabaco e amianto. Apesar disso, milhões de indivíduos, incluindo adolescentes, continuam a recorrer ao bronzeamento artificial anualmente.
Os pesquisadores ressaltam que os novos dados tornam difícil sustentar qualquer alegação de segurança em relação ao uso desses dispositivos. Ao contrário, o bronzeamento artificial parece criar um ambiente propício para o surgimento do melanoma, mesmo anos após a exposição.
Entendendo o Melanoma e seus Riscos
O melanoma é considerado a forma mais agressiva de câncer de pele, originando-se nos melanócitos. Embora represente apenas de 1% a 3% dos tumores cutâneos, é responsável pela maioria das mortes associadas a essa doença. Os melanomas geralmente se manifestam como uma pinta que apresenta alterações em cor, forma ou tamanho, e quanto mais profundo e irregular for o tumor, maior será sua agressividade.
O principal perigo do melanoma reside na sua capacidade de disseminação para outros órgãos, como linfonodos, pulmões, fígado e cérebro, se não for diagnosticado precocemente. Quando identificado em estágios iniciais, as chances de tratamento bem-sucedido são elevadas; por outro lado, em fases avançadas, a abordagem se torna mais complexa e a mortalidade tende a aumentar.
Em contrapartida, outros tipos comuns de câncer de pele, como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular, apresentam comportamentos distintos. O carcinoma basocelular, por exemplo, cresce lentamente e raramente metastatiza, embora possa causar deformidades se não tratado. Já o carcinoma espinocelular é menos frequente, mas possui maior risco de disseminação, especialmente em indivíduos imunocomprometidos.
De acordo com João Duprat, líder do Centro de Referência em Tumores Cutâneos do A.C.Camargo Cancer Center, “o melanoma se apresenta como uma pinta que muda, enquanto os carcinomas costumam aparecer como feridas que não cicatrizam por mais de um mês”.

