Divisões na Escola Politécnica
A paralisação das obras do prédio anexo da Escola Politécnica da Bahia (EPUFBA) traz à tona uma intensa disputa política interna, cuja resolução ainda pode demorar alguns meses. A situação se intensificou após a reportagem publicada por A TARDE em 15 de dezembro, quando um docente da Politécnica contatou a redação para expressar a atual fragmentação entre os departamentos da instituição.
O episódio mais recente desse impasse ocorreu durante a reunião do Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizada no dia 9 deste mês. Na ocasião, o diretor da EPUFBA, Marcelo Embiruçu, reforçou sua defesa pelo projeto de reorganização da escola, recebendo apoio de parte dos alunos. No entanto, outros estudantes se manifestaram contrários à proposta, evidenciando a polarização entre os grupos.
Preocupações financeiras e denúncias
A incerteza em torno do futuro do prédio, que conta com R$ 35 milhões destinados pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para sua conclusão — iniciada em 2011 e paralisada em 2016 —, levou o diretório acadêmico dos cursos de engenharia de produção, controle e automação, elétrica e química a recorrer ao Ministério Público Federal. O motivo? Alegações de desvio de finalidade do projeto.
O plano aprovado pela congregação da Politécnica visava abrigar os cursos de engenharia industrial (química, produção, automação, ambiental e mecatrônica), além de engenharia elétrica e computação, sem desamparar os demais cursos oferecidos.
Críticas ao desmembramento da escola
Entre os críticos do projeto está o professor titular de tratamento de minérios, Luiz Rogério de Andrade Lima. Ele manifesta sua preocupação com a proposta de desmembramento da escola, que, segundo ele, acarretaria a criação de duas novas unidades, uma defesa do diretor Embiruçu. Para Luiz Rogério, a deliberação da congregação não representa um consenso, uma vez que apenas cerca de 35 dos 190 docentes apoiam essa mudança.
O professor destaca que o mandato de Embiruçu se aproxima do fim, e a criação de novas unidades não seria viável nesse curto espaço de tempo. “Ele terá a oportunidade de realizar um referendo”, acrescenta Luiz Rogério, mencionando a posição da Procuradoria da UFBA que endossa a necessidade de um projeto mais abrangente.
Respostas do diretor e desafios à proposta
Por outro lado, Marcelo Embiruçu rebate as críticas de Luiz Rogério, ressaltando que não há um prazo fixo para tramitação do projeto, que deve passar por 60 dias de divulgação pública. Ele nega estar impondo sua proposta e argumenta que a criação das novas unidades era um compromisso de sua campanha. “A intenção deles é me substituir”, afirma Embiruçu, destacando que a questão não se trata de um referendo, mas de um processo democrático.
Embiruçu também critica a falta de conhecimento de Luiz Rogério sobre os trâmites do Conselho Universitário, afirmando que processos não costumam ficar parados por longos períodos. Segundo ele, existe um equívoco no parecer da Procuradoria, que, de acordo com o diretor, confundiu a consulta da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura com desvio de finalidade.
Oposição e disputas de poder
O diretor enfatiza que o projeto já foi aprovado em quatro votações pela congregação da Escola Politécnica, que conta com 42 integrantes, entre eles oito estudantes. “Não há consenso, nem poderia haver em uma unidade tão complexa. O dissenso deve ser resolvido democraticamente por meio do voto”, defende Embiruçu.
Marcelo Embiruçu também esclarece que a ocupação do prédio não está necessariamente atrelada à criação de novas unidades, sendo esses três processos distintos: a definição de ocupação, a reorganização acadêmica e a reestruturação administrativa. Para ele, a disputa em curso é claramente uma luta por poder dentro da instituição.
“Sou o segundo diretor na história da Politécnica que não é engenheiro civil. Essa oposição está incitando animosidade entre os estudantes. A decisão pertinente deve ser tomada pelo Consuni, e tenho plena convicção de que nossa proposta será aprovada”, conclui Embiruçu.

